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Milorde

Preferia brincar sozinho

Milorde, 27.09.23

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Sempre fui um rapaz muito reservado e introvertido. Preferia brincar sozinho do que com os meus amigos ou colegas da escola porque eu não tinha as mesmas brincadeiras que eles. Divertia-me mais sozinho quando dava largas à minha imaginação e inventava histórias na minha cabeça com personagens que eu criava, onde seria sempre eu o personagem principal da trama, e dava-lhes voz. Por isso mesmo é que muitas pessoas diziam que eu não era um rapaz normal, era um ser humano esquisito que se infiltrava no mato e falava com as árvores.

Eu mesmo tinha essa perceção mas era algo que não conseguia controlar. Ainda hoje dou por mim, inconscientemente, a inventar cenários e situações (principalmente quando estou a conduzir) onde me perco totalmente nos pensamentos enquanto a vida se desenrola lá fora, do outro lado do meu mundo imaginário.

- Ouviste o que eu te disse? - pergunta a minha mãe.

Não, não ouvi nada! Fico completamente abstraído. Impressionante, não é?

Bem, voltando então à minha infância, uma professora e diretora de turma apercebeu-se de que eu não convivia com os meus outros colegas e não tinha brincadeiras consideradas normais para um rapaz da minha idade.

Claro que como docente, ela teve que tomar uma atitude em relação ao assunto. Chamou a minha mãe à escola e disse-lhe que eu iria começar a ter consultas de psicologia. Foi como se o mundo se tivesse aberto debaixo dos nossos pés e estivéssemos a cair naquele buraco sem fundo. Eu iria ter consultas com uma psicóloga?! Porquê?! "Eu não estou maluco" - dizia. A minha mãe ficou cheia de medo que ela fosse considerada incapaz (ou má mãe) por não conseguir lidar com um rapaz na minha condição mental, temeu muito que eu fosse institucionalizado e pediu-me tantas vezes que não brincasse mais sozinho. Estávamos no ano de 2001, não havia acesso a tanta informação como há agora, não a condenem!

Senti-me injustiçado, incompreendido, revoltado mesmo. Comecei a sentir rancor pela diretora de turma, que fosse ela ao psicólogo e que me deixasse em paz! De nada adiantou, fui mesmo obrigado a ir.

O resto, contarei mais tarde.

 

Engraçado que ao dar início a este texto, ia falar de um assunto completamente diferente, mas a minha cabeça e os meus dedos ágeis levaram-me a escrever isto. Totalmente genuíno.

 

Uma mochila pesada

Milorde, 25.09.23

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Fui buscar a minha sobrinha à escola. Como está sol, temperaturas mesmo um pouco altas para a época, decidi ir a pé porque a escola fica relativamente perto de minha casa.
 
Ela já está no 5º ano, já foi para a escola dos "grandes". Quando lá cheguei, ela mal me viu correu para o portão, passou o cartão no leitor para confirmar a sua saída e depois pediu-me se poderia levar-lhe a mochila porque já lhe doía os ombros. "Claro que sim!" - disse-lhe. Peguei na mochila e coloquei-a às costas.
 
Vocês não estão a perceber o peso daquela mochila! Eu próprio, um homem adulto, tive dificuldade em carregar a mochila até casa de tão pesada que estava, sob o sol quente das 2 da tarde. E ela só teve aulas de manhã, reparem!
 
Chegados a casa pousei aquele peso todo chão, aliviado. Ainda me doem os ombros! Como é que é possível que as nossas crianças sejam sujeitas a isto?! É que todo este peso nos ombros de uma criança pode trazer-lhe consequências, problemas de saúde nas costas!
 

Uma memória na luz do passado

Milorde, 18.09.23

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Na minha mente existe um baú precioso repleto de lembranças, uma coleção de experiências que moldaram o meu caminho. Cada lembrança é como uma estrela no vasto céu da minha vida, que brilha com uma intensidade única e que conta a sua própria história.
 
Uma dessas memórias reluzentes remete a uma tarde dourada de primavera, onde o sol se deitava gentilmente sobre as colinas e pintava o mundo com tons suaves e quentes. Naquele dia, eu estava com a minha avó, uma mulher sábia e gentil que tinha o dom de transformar momentos simples em preciosidades eternas.
 
Lembro-me da sua voz suave, contando histórias de tempos idos, enquanto preparávamos uma aletria. O aroma doce e reconfortante da canela e da casca de limão misturava-se no ar, criando uma sinfonia de sensações que perdura na minha mente até hoje.
 
À medida que ela mexia o tacho, partilhava comigo histórias da sua juventude, aventuras que pareciam pinturas vivas. A suas palavras eram como um fio mágico que me transportava para aqueles tempos passados, permitindo-me vislumbrar a vida como ela a conheceu. Era como se estivesse lá, sentindo as emoções, os desafios e as alegrias que ela experimentou.
 
Naquele momento, percebi a magia das memórias, como elas conectam gerações e ensinam-nos sobre a nossa história. Elas são como faróis no meio da escuridão, guiando-nos em direção a quem somos e o que podemos ser. Cada história compartilhada, cada lembrança preservada, é uma contribuição valiosa para o tapete tecido da nossa identidade.
 
Essa memória é mais do que apenas uma lembrança de um dia especial; é um elo vital com o passado e um lembrete constante do valor das histórias e das pessoas que as compartilham. A minha avó é uma luz suave que continua a iluminar o meu caminho, que me guia através dos desafios e celebra as minhas alegrias da vida.
 
Assim, guardo esta e outras memórias com carinho, sabendo que elas são tesouros que enriquecem a minha jornada e moldam a minha visão do mundo. Como guardião desse baú de lembranças, sigo em frente, ansioso para adicionar novos capítulos e histórias à coleção que compartilharei com as futuras gerações.
 

Caprichos de mãe

Milorde, 11.09.23

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A minha mãe não foi trabalhar porque teve uma consulta no centro de saúde. Quando chegou a casa disse:

- Ai não quero cozinhar, hoje vamos almoçar no restaurante chinês, já há muito tempo que não lá vou.

- Mãe, eu não acho boa ideia. O restaurante chinês é um pouco caro. E a minha conta bancária está a gritar por alimento! Se ainda gastar mais tenho a certeza que um dia destes o banco vai me ligar para me aconselhar a desativar esta conta!

- Não te preocupes com isso que eu pago!!

Oh meus estimados leitores, é que ela nem precisou de dizer isso duas vezes.

Vesti a minha camisa cor de rosa (sim, um homem também veste rosa), uma calça de linho preta, calcei uns ténis básicos, coloquei aquele meu perfume que ela diz ser muito enjoativo, peguei na chave do carro e lá fomos até à cidade onde fica o tal restaurante.

Quando chegamos à cidade, e após voltas e mais voltas (onde a minha mãe ordenava para onde me devia dirigir qual polícia sinaleiro), não havia nenhum estacionamento livre perto do restaurante e, então, tive que me distanciar um pouco para arranjar um sítio onde deixar o meu carro sem arriscar apanhar uma multa que os nossos amigos não perdoam.

Chovia muito e os meus vidros estavam embaciados.

- Liga essa coisa para desembaciar os vidros! - ordenou a minha mãe. Bem tentei, mas a "coisa" aparentemente está avariada porque carreguei no botão umas 20 vezes e aquilo não ligou.

Se havia de chover era naquele momento em que nos preparávamos para sair do carro. Ainda esperamos que a chuva amainasse mas ela teimava em não passar.

- Mãe, eu acho que é melhor mudarmos de ideias e vamos antes almoçar no centro comercial.

- Não senhora! Eu quero ir ao chinês. Vamos embora! Eu não tenho medo da chuva!

Penso que nunca corri tanto na minha vida. Se estivesse a participar numa Meia Maratona naquele momento, da maneira como corria qual Rosa Mota pelas ruas do Porto, asseguro-vos que a ganharia. Cheguei ao restaurante com a camisa encharcada.

A comida estava ótima. "Valeu a pena apanhar a chuva", disse a mãe a esfregar a barriga enquanto nos dirigíamos para o carro (a chuva tinha acabado).

Chegamos a casa e, no momento em que ia sair do carro, a chuva recomeçou. Caramba, parece praga!

 

Plantas e os meus cuidados

Milorde, 04.09.23
Como se já não tivesse plantas suficientes em casa, ontem comprei mais duas. (Isto começa a ser grave, não?). Eu tenho 12 plantas em casa, coisa pouca!
 
São elas: Dieffenbachia seguine, conhecida pelos nomes comuns de comigo-ninguém-pode e aningapara; e um Antúrio branco (já tenho dois vermelhos e um rosa, faltava-me um branco ).
 

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A verdade é que sempre que vou a um horto não consigo sair de lá de mãos vazias. Há sempre uma planta que me chama a atenção, outra que ficaria bem juntamente com uma que tenho cá em casa, vasos maiores para aquelas que já cresceram e as raízes começam a sair pelos furos, terra especial para plantas de interior, fertilizantes, etc.
 
Gosto de comprar aquelas plantas mais pequenas porque me dá uma satisfação enorme quando as vejo crescer.
 
Não sei se vocês estão bem a perceber a minha situação. Eu falo com as minhas plantas! Eu limpo as folhas com um disco de algodão para lhes tirar o pó! Meto-as na banheira e com o chuveiro faço chuva para elas... Ando com elas como quem anda com ovos (mete-me impressão quando no horto as funcionárias pegam-lhes e manuseiam-nas com brutalidade). E elas agradecem-me com folhas brilhantes e flores lindíssimas!!
 

A história de um rapaz que se assumiu

Milorde, 01.09.23

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Quando tive o meu primeiro namorado e me assumi como homossexual a minha mãe fez-me um ultimato: se queres te assumir sais fora desta casa! Não levei essa ameaça a sério porque lá no fundo eu sabia que ela nunca seria capaz de fazer uma monstruosidade dessas, estava apenas chocada com uma realidade que, acredito, ela já ter percebido e fingido não ver. Corria o ano de 2009.

Nessa altura, a minha mãe não estava preocupada comigo, mas sim por aquilo que os outros iriam falar. "Tu vais ser motivo de chacota" dizia ela. Soube que mais tarde ligou ao irmão, meu tio emigrado na Suíça, para desabafar e ele simplesmente lhe disse que era algo completamente normal e que na Suíça não faltavam rapazes como eu, que se algum dia me sentisse mal ou constrangido por me assumir, poderia perfeitamente emigrar para junto dele que iria ajudar-me no que pudesse.

Não aceitei. Emigrar nunca esteve nos meus planos e muito menos emigrar por causa do que os outros iriam falar de mim, isso jamais!

Quando contei à minha irmã mais nova ela ficou contentíssima por lhe ter confiado algo tão íntimo e disse que me apoiava em tudo. A minha irmã do meio, na altura com 20 anos, ficou igualmente chocada. "Vai ser uma vergonha" dizia ela, e certo dia ouvi ela comentar com a mãe "são coisas que se metem na cabeça das pessoas e depois passa". Pois, mas como a homossexualidade não é uma doença que curamos com uns comprimidos ou apoio psicológico (a que muitos homens foram sujeitos ao longo dos anos), essas "coisas que se meteram na minha cabeça" não passaram.

A minha mãe tinha razão numa coisa: o motivo da chacota. A partir do momento que me assumi como gay e comecei a viver a minha vida sem me esconder, o meu namorado vinha buscar-me à porta de casa em vez de me esperar num sítio mais reservado, as piadas e bocas surgiram. "Lá vai o paneleiro", "cuidado senão ele enraba-te", "este gajo é mesmo bicha" - são apenas alguns exemplos.

Ouvi e calei durante muitos anos.

Hoje a situação é diferente. Há mais pessoas que cumprimentam o meu namorado que aquelas que nos criticam e isso deixa-me muito feliz. Claro que uma vez por outra ainda ouço comentários desagradáveis, porém em vez de baixar a cabeça e continuar olho a pessoa diretamente nos olhos, sem dizer nada. A pessoa vira a cara, completamente desarmada, porque percebeu que aquelas palavras não me atingem mais.

Sou mais respeitado hoje do que há 14 anos atrás. A vida, essa, só diz respeito a mim. Os outros são apenas os outros.

Bom fim de semana a todos.

Terceiro dia da vaga de calor

Milorde, 23.08.23

Será que consigo arranjar um voo de última hora e baratinho para a Noruega?

Ontem quando saí de casa para ir buscar a minha mãe ao trabalho, por volta das 13h20, fui invadido por uma aragem tão quente como se tivesse aberto o forno quando ele está nos 200 graus para tirar uma lasanha já pronta. Fechei a porta logo de seguida e neguei-me compulsivamente a sair de casa com aquele calorão! Mas obviamente que tive que sair, não ia deixar a mãe a pé.

Ela quando entrou no carro disse: eu asso com este calor!

Fiquei durante o resto do dia em casa com as janelas e persianas fechadas para impedir que o calor entrasse. O problema é que quando estou sem nada para fazer, ou quando não posso sair de casa para fazer a minha caminhada por motivos climáticos, entro num estado ansioso e diria mesmo também em desespero. E sim, tive que tomar aquele comprimido que tenho em caso de SOS.

Este ano investi num aparelho de ar condicionado portátil que ainda estou a pagar em prestações, mesmo por causa de situações como esta. Só o ligo, quando necessário, umas 2 horas à noite antes de deitar, para não consumir muita eletricidade. Dormi bem.

Hoje o dia será igualmente quente. Contudo o meu humor melhorou, não só pelo ansiolítico que ainda deve estar aqui dentro do meu organismo a controlar a situação, mas também porque sei (vejo a aplicação da meteorologia de hora em hora) que esta noite será mais fresca e que amanhã este calor vai partir.

Caso ainda não tenham reparado criei um outro blogue - No seu Mundo. Nele irei partilhar uma história que tem povoado a minha mente. Irei escrever algumas coisas quando a minha inspiração estiver pronta.

 

Segundo dia de uma vaga de calor que ninguém pediu

Milorde, 22.08.23

Segundo dia de mais uma vaga de calor e eu não poderia estar mais contente - só que não! Ando num estado ansioso para que estes dias passem depressa para poder voltar a sentir o ar fresco na minha pele. Provavelmente hoje irei molhar um lençol e cobrir-me com ele (sigam-me para mais dicas ).

Esta manhã, após conduzir a minha mãe ao trabalho, fui ao Intermarché (passo a publicidade) fazer umas compras para o meu almoço que será uma omelete de espinafres, queijo e sementes de girassol, para me dar aquele boost de energia que normalmente perco quando as temperaturas sobem a partir de 26º.

Desejo, sinceramente, que passem bem estes dias e não se esqueçam de se hidratarem que é muito importante.

 

O Milorde escreve uma curta

Milorde, 27.04.23
Hoje fui com a minha mãe a uma consulta num hospital público e tenho coisas a dizer:
  1. Deixa-me bastante desconfortável ter que ir a uma casa de banho pública e a porta não fecha.
  2. A consulta da minha mãe estava marcada para as 10h. São 11 e ela ainda não foi atendida.
  3. Enerva-me a libertinagem das pessoas que se passeiam pelo hospital como se estivessem a fazer uma caminhada no meio da natureza.
  4. Quando tossirem, por favor, metam o braço à frente da boca! É uma regra básica.
  5. Gente eu ouço bem! Não precisam falar comigo tão perto ao ponto de eu levar com perdigotos na cara.

 

O Milorde questiona

Milorde, 20.04.23

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Olá a todos!

Sou uma pessoa que dá muita importância à opinião daqueles que me seguem, daqueles que se mantêm fieis desde o início ao meu projeto, e por isso mesmo decidi criar um inquérito sobre este blogue para melhor perceber a vossa opinião sobre ele e, se porventura, devo melhorar ou mudar alguma coisa.

Então peço a colaboração de todos vocês para preencher este pequeno inquérito de escolha múltipla que vos faço.

A vossa opinião é muito importante para mim!

 

https://forms.gle/wTC8XUEaDP2J2Lho6

(O inquérito é anónimo. Não terei acesso aos vossos emails pessoais)