Milorde indeciso
Ontem foi o dia dos abraços, das palmadinhas nas costas, dos presentes, da simpatia! Não me recordo de ver os candidatos a eleições tão atenciosos e tão simpáticos com os plebeus, foi de uma emoção tamanha que encheu o meu coração de alegria... só que não! Recebi canetas, lápis de carvão, lápis de cor, um saco para o pão e um frasco de álcool gel. Pensava eu que tinha dormido imenso e acordei já no natal, tal era a bondade!
Américo Tomás, o atual presidente de Barbalimpa, abordou-me na rua logo no momento em que ia começar a minha caminhada, dizendo-me que era mesmo comigo que queria falar como se o assunto fosse uma urgência onde nos dão uma pulseira vermelha para entrada imediata, perguntando-me o que tinha realmente acontecido à dias atrás num acidente de viação por causa de um buraco na estrada, perto da minha mansão. Após a conversa sobre o incidente, o senhor presidente disse-me que domingo há eleições (como se eu não soubesse) e que contava com a minha presença e com o meu voto com consciência!
- Vote com consciência, Milorde. O nosso partido já está cá há 18 anos consecutivos, desde o meu tio, e não queremos parar!
Já à noite, quando já tinha o meu pijama de cetim vestido e estava a assistir netflix, alguém bateu à minha porta com tanta força que pensei que alguém estava a morrer. Anacleto da Silva, o outro candidato, apareceu-me à porta de braços abertos e a máscara abaixo do nariz apelando também ao meu voto, que precisamos de mudança, já chega de socialismo! Viva o PSD, viva!
- Agora vou comer que estou cheio de fome! - Disse-me ele e desapareceu tão depressa como tinha aparecido.
E agora? Estou tão indeciso em quem votar! Será que se eu fizer o pim pam pum entre eles é válido?