Milorde ignorado
Cada vez mais vivemos num mundo em que as pessoas não comunicam. Uma consequência bem real desta falta de comunicação é a guerra na Ucrânia em que dois homens de dois países diferentes (vizinhos, é preciso realçar) não se querem sentar a uma mesa e conversar, chegar a um acordo para que esta guerra termine de uma vez por todas. Zelensky disse que iria lutar até ao fim e o seu povo morre, sofre, perde as casas, passam fome e outras necessidades... enquanto ele é visto como um herói!
Bem, diria eu que vivemos num mundo em que as pessoas não se comunicam. Quantas vezes vejo num restaurante casais que enquanto esperam pela sua refeição estão coladas aos seus smartphones sem dizerem uma palavra um ao outro, ou então quando falam é para dizer: "repara nesta fotografia", "olha-me só para este vídeo".
E depois existem aquelas pessoas que ignoram propositadamente as outras como se fossemos transparentes.
Ontem fui fazer as minhas compras e na peixaria, aparentemente, não tinham mais douradas. Estava à espera da minha vez enquanto observava os peixes de olhos brilhantes e com a boca a fazer biquinho dispersos numa bancada cheia de gelo, tentando decidir qual escolher. À minha frente estava uma senhora de cabelos encaracolados que perguntou qualquer coisa à peixeira.
- Eu vou lá dentro ao armazém buscar uma caixa, aguarde um momento senhora.
Pensei eu que a peixeira iria buscar as douradas mas, para ter a certeza, dirigi-me à tal senhora de cabelos encaracolados e perguntei:
- Desculpe, poderia dizer-me se a peixeira foi ao armazém buscar douradas?
A senhora de cabelos encaracolados virou a cara ao lado e afastou-se de mim como se eu tivesse alguma doença contagiosa.
Não perguntei mais nada. A senhora deixou bem claro que não queria ser incomodada. A peixeira voltou e trouxe uma caixa com robalos porque a senhora de cabelos encaracolados não queria aqueles que estavam na banca.
Aprende Milorde, nem toda a gente é tão comunicativa como tu!