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Milorde

O dia mais feliz com Ana de Deus

Milorde, 30.11.21

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A minha convidada desta semana é a Ana de Deus, autora dos blogues Busy as a bee on a rainy day e Os contos da abelha. Tal e qual como uma abelha a Ana foi entrando, com um ramo de flores nas mãos que eu não faço ideia onde ela foi arranja-las, e disse-me que também quer me contar os dias mais felizes da sua vida, sim ela escolheu dois! Pedi à Maria que nos servisse um chá de cidreira com uma colher de mel para que a minha convidada se sentisse em casa e, então, a Ana contou-me o seguinte...

Caro Milorde, estive a ler as participações da Cafeína, do Marco, da Peixe Frito, do João e da Luísa, neste projeto maravilhoso e só lhe posso dar os parabéns pela iniciativa. Adoro celebrar momentos felizes! No meu caso é mais um ano - 1996 - com dois dias muito especiais: o nascimento da minha sobrinha e ser selecionada, entre mais de dois mil candidatos, após meses de provas, para um curso de Jornalismo no CENJOR de Lisboa, e renascer para a vida na minha cidade natal.

Quando a minha sobrinha nasceu o sol voltou a brilhar nas nossas vidas e o Natal voltou a ser mágico. A minha irmã e o pai da minha sobrinha separaram-se quando ela tinha dois anos, mas nesse ano ele esteve presente na noite de Natal com a nossa família. Era suposto ela alternar a consoada entre as duas famílias, mas ela escolheu passar a noite de Natal com a nossa família e o dia de Natal com o pai. Porque nós brincávamos muito, fazíamos peças de teatro.

 

Éramos vinte e quatro abençoados, no curso de Jornalismo e ainda hoje mantemos contacto. Éramos muito unidos e, quando o curso terminou, decidimos encontrarmo-nos todas as primeiras sextas-feiras de cada mês, sempre no mesmo restaurante. E durante anos essa noite era só nossa. Alguns, entre nós, casaram ou vivem em união de facto. Relações felizes. Estivemos presentes nos casamentos uns dos outros. Uns foram padrinhos uns dos outros. Somos mesmo abençoados.

 

O dia mais feliz com o José

Milorde, 23.11.21

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O meu convidado desta semana é o José, autor dos blogues Cheia e Sociedade Perfeita. Gosto sempre de imaginar os poetas com um caderno ou um maço de folhas na mão e foi assim que vi o José entrar pelos portões adentro da minha mansão, contemplando o meu jardim para quiçá encontrar inspiração para mais um dos seus poemas, e num tom jovial deu-me um aperto de mão. Sentamo-nos no meu sofá para degustar um chá de camomila e, como não podia deixar de ser, leu-me um dos seus poemas.

Logo depois o José, perdido em memórias e pensamentos, contou-me um dos dias mais felizes da sua vida.

Sua alteza Milorde convidou-me para o seu salão, para bebermos um chá, e saber qual era o dia mais feliz da minha vida. Mas, fiquei um pouco nervoso, nunca tinha estado num cadeirão tão elegante e nobre.

Por mais que tentasse percorrer os meus muitos anos, não conseguia escolher um dia em que tivesse sido mais feliz que outro. Sempre que tentava selecionar um, outros se indignavam por serem preteridos com a escolha, porque acham que todos foram felizes. Portanto, acham que não devo escolher um, mas todos, porque todos se consideram muito felizes.

Fiz-lhes ver que assim não poderia cumprir com que me tinha sido pedido. Tivemos longas discussões, sem que conseguíssemos chegar a um acordo. Estava a ver que não conseguia sair daquele beco sem saída, até que me lembrei de lhes pedir se me deixavam escolher aquele em que despi a farda da tropa, uma vez que todos estavam de acordo que aqueles quatro anos tinham sido os piores da minha vida.

Parti um pé, com poucas semanas de recruta, faltavam poucos meses para o nascimento da minha filha mais velha. Nasceu, pouco depois de eu ter deixado as muletas (canadianas). Andei um ano a tentar livrar-me da tropa, ou ir para os auxiliares. Até que o médico disse que já chegava, mandou-me a uma junta médica, onde estava outro recruta, que parecia não ter nada, mas saiu com um papel carimbado: dizendo que estava inapto para o serviço militar.

A seguir um dos médicos agarrou no meu processo, já não me lembro se me perguntaram alguma coisa, um deles pegou noutro carimbo que dizia: apto para todo o serviço militar.

Embarquei para Angola, tinha 18 meses, ainda não falava, poucos dias depois estava com a mãe, num estabelecimento, quando entrou um soldado, e ela disse: "à pai”.

Ao fim de um ano, já não suportava as saudades delas, vim passar um mês de férias. Quando me despedi delas, a minha filha disse-me: “até logo”, naquele momento pensei: ou até nunca mais. Palavras, que me moeram o juízo, durante muitos meses!

No dia em que desembarquei, em Lisboa, já com 26 anos, em que arrumei a farda militar, para sempre, em que voltei a abraçar a minha família, depois de ter perdido os primeiros 4 anos da minha filha mais velha, foi um dia diferente.

Infelizmente, poucos dias depois, aquela felicidade foi ensombrada por um sonho, felizmente não passou de sonho: tinha sido mobilizado, novamente, para a guerra. Reagi muito mal, acordei a dizer que nunca mais iria para a guerra, porque antes matava-os, a todos.

 

O dia mais feliz com a Luísa

Milorde, 16.11.21

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A minha convidada desta semana é a Luísa de Sousa. Todos a conhecem não só pela sua simpatia aqui na blogosfera mas também pelos seus 4 blogues: Uma pepita de sucesso; Blog de Moda e Estilo; Guia do Envelhecimento Ativo; Mais boa forma.  Toda cheia de estilo e perfumada, de salto alto e sorriso rasgado avançou pelo meu soalho de braços abertos pronta para me dar um grande abraço. De seguida sentou-se no meu sofá, cruzou a perna, bebeu um gole do chá de erva-príncipe que lhe foi servido pela Maria de bom grado e com os olhos a brilhar contou-me os seus dias mais felizes!

O dia mais feliz da minha vida...

Foi quando tive consciência dos pais maravilhosos que tenho?

Foi quando reconheci a minha irmã como a melhor amiga de brincadeiras?

Foi quando conheci as pessoas que amei e que ainda amo tanto?

Foi quando me casei?

Foi quando acompanhei a construção da casa dos meus sonhos e que ainda vivo até hoje?

Foi quando soube que ia ser mãe pela primeira, segunda e terceira vez?

Foi quando as minhas filhas nasceram?

Foi quando lhes dava de mamar, de comer, o banho, vi o seu primeiro sorriso, ouvi a sua primeira palavra?

Foi enquanto as via crescer e a se tornarem as pessoas maravilhosas que são?

Foi quando terminei a minha licenciatura e mestrado depois dos 40 anos, com muito esforço e dedicação, apesar de trabalhar muito, ser mãe e esposa?

Foi quando, após tantas tentativas, tantos concursos públicos e pedidos de mobilidade, consegui o meu atual trabalho, que adoro?

Foi quando as minhas filhas acabaram o curso, tiveram o seu trabalho e a sua casa?

Foi quando soube que ia ser avó? Quando a Clarinha nasceu? Quando a Clarinha diz que me ama?

É quando sinto que sou a melhor mãe e avó do mundo?

Sim, sim, sim, sim... foram e são todos estes dias, nestes dias e nestes momentos ... que fui e sou muito feliz!

E noutros dias, noutras horas, noutros momentos ... que fui e sou muito feliz!

A lista seria infinita de dias e de momentos de felicidade!

Porque acordo todos os dias, sabendo que tudo farei para que aquele dia, seja o melhor e o mais feliz da minha vida!

 

O dia mais feliz com o João

Milorde, 09.11.21

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O meu convidado desta semana é o João Silva do blogue O que não mata, engorda e transforma-te num maratonista. Como todos sabemos o João é um grande maratonista mas hoje ele está aqui bem quieto, sentado no meu sofá, a tomar um chá de Lúcia-lima para contar-me um dos dias mais felizes da sua vida.

Não estava à espera mas lá recebi um pedido especial vindo da bela (e fictícia) terra Barbalimpa. Se não for uma nova Atlântida, um dia lá irei. Gosto de famílias reais.
 
Indo ao que interessa, o pedido queria que falasse sobre o dia mais feliz da minha vida. Ora bem, mesmo uma pessoa amarga como eu tem dias felizes. Ou momentos, pelo menos. Antes de aceitar, vasculhei no meu portfólio móvel, também chamado de cérebro, não fosse não ter nada de palpável para animar o Milorde.
 
Até tinha. Primeiro, pensei no dia do nascimento do meu filho. Era óbvio e altruísta. Mas vejamos: passei o dia sem ter notícias da minha grávida, a chorar, fui proibido pela maternidade de entrar na sala de partos por causa de um desgraçado de um vírus novo que assolou o planeta e só ao fim de três dias pude ter o meu filho nos braços. Eh pá, o momento foi o melhor da minha vida, mas não estive presente nesse dia. Portanto, tinha de escolher outro: podia ser o dia em que comecei a namorar com a minha esposa ou o do nosso casamento, mas são coisas que não diferem daquelas sessões de fotos que fazemos para mostrar (aborrecer?) os nossos amigos com sentimentos e sensações muito pessoais.
 
Spoiler Alert: ninguém nos vai dizer que o nosso filho é feio ou que o destino de lua de mel que escolhemos foi uma porcaria.
 
O da minha formação académica também não suscitava interesse. Olha, sobrava um, aquele que consumou uma grande mudança na minha vida. Claro está, falo da minha primeira maratona. No Porto, em 2018. Não tivesse o meu corpo dado de si e teria feito mais uma naquela cidade há dois dias. Resumindo, aquele dia foi uma espécie de experiência fora do corpo (olha que clichê maravilhoso!). Porém, foi mesmo muito mais do que esperava.
 
Saímos de Condeixa perto das cinco da manhã com uma pessoa muito especial (o grande Zé Carlos), que nos levou ao Porto (onde também ele correu). Fomos presenteados com chuvinha da boa. Era ótima, na verdade. Caía e fazia doer, tal era a sua frieza e grandeza. Por causa do tempo, esperava pouco apoio. Mas não. Estava tão errado! Mas antes da simbiose que senti com o público, revelo que tive o prazer mágico de entrar numa casa de banho própria para este tipo de eventos. Já tinha usado uma na primeira vez em que fui a uma Queima das fitas. Tirando as bebedeiras com pernas, não havia diferenças, devo dizer. Os estados das ditas casas de banho eram similares. 
 
Portanto, narizes apurados para começar a prova. Ainda houve tempo para tirar umas fotos no palanque dos vencedores. Sim, depois disso vinham lá os etíopes ou os quenianos e queriam o pódio só para eles. Chuva, mais chuva, tanta chuva. Ainda hoje penso que alguém foi buscar a água do mar de Matosinhos, ali ao lado, para nos dar um banho. A hidratação é muito importante nas corridas.
 
Ainda antes do começo da dita prova, "rapinei" uma bandana da EDP que estava num separador físico da estrada. Mas estavam a dar aos atletas na zona de partida! Nunca tinha corrido de bandana. Parecia que ia para a guerra. E ainda hoje sei que fui. Era a minha guerra. A materialização daquilo para que trabalhei durante tanto tempo.
 
Não vos interessa que explique a evolução da prova. Digo-vos apenas que me senti nas nuvens. Nunca fumei nem consumi drogas, mas aqueles chamares da multidão nas ruas fez-me sentir lá em cima, intocável e invencível.
 
A dada altura, já pedia com os braços que viessem comigo, que me apoiassem. Precisava daquilo, daqueles incentivos, daquele impulso. E ver a minha esposa com um impermeável permeável no meio da multidão a chamar por mim aos 15 km/20 km? Nunca tinha sentido nada assim no corpo. Tive a desfaçatez de fechar os olhos, de me deixar guiar pelos gritos, pelos incentivos.
 
Quando cheguei à meta, eu sabia o que estava a sentir. Sabem aquilo que os jogadores da bola dizem, aquilo de ainda nem terem percebido o que lhes aconteceu? Não me aconteceu nada disso. Só lágrimas. Tantas! Mesmo para mim que sou uma "Maria Amélia" (porquê Maria Amélia? Não sei!). Lágrimas e dores. Nas pernas. Desgraçadas das cãibras! E também senti atordoamento, já agora. Então estavam a dar as camisolas de finisher e eu não sabia onde? E se não me dessem uma? Drama disfarçado de calma. E muita chuva. Tanta chuva. Raio da chuva!
 
Terminada a "atuação", era hora de comer para depois seguir viagem. O meu colega Zé Carlos tinha a tradição das Francesinhas depois de cada maratona no Porto. O que fiz eu? O que faço sempre... chonesices e comi um húmus de grão e uma bela salada no Vitaminas. Sim, foi assim que celebrei aquele dia mágico. Assim e com uma taçona de aveia e banana e batatas doces quando cheguei a casa.
 
Agora que penso nisso, nunca se aplicou tanto o nome de "boner killer" à minha pessoa. Sim, sou o João, o boner killer. Mas um que se tornou maratonista em novembro de 2018.