Milord vai à bruxa
Esta manhã recebi um panfleto na minha caixa do correio. Estava quase a coloca-lo no lixo quando a Maria apareceu e quis ver o que estava lá escrito.
Ficou logo toda contente por a Madame não sei das quantas estar na cidade porque, segundo ela, desde que aqui trabalha que sente uma energia negativa nesta casa e que isso não é nada bom.
- Eu nem era para lhe contar isto, Milord, mas esta noite tenho quase a certeza que senti alguém a puxar-me os pés. Não faça essa cara, olhe que é verdade! Eu acho que esta casa está assombrada, por isso é que o Milord está a perder tudo o que tem. Alguém deve ter-lhe colocado mau olhado.
Disse-lhe logo que não acreditava nessas coisas. Mas ela insistiu:
- Olhe que eu ouvi dizer que a Madame Carmecita fez com que um senhor de outra cidade recuperasse toda a sua fortuna.
Mal ela disse aquilo foi como se uma luz se acendesse na minha cabeça. Tenho a certeza que até a minha expressão mudou logo porque a Maria fez um sorriso de satisfação.
Decidimos telefonar para marcar uma consulta e, que sorte a nossa, a senhora informou-nos que estava disponível já esta tarde devido a uma desmarcação de uma cliente que se encontrava com gripe.
O seu "consultório" fica numa rua estreita sem saída perto da igreja. Quando chegamos a primeira coisa que me chamou a atenção foram os gatos. 14 pares de olhos verdes observaram-nos como se fôssemos dois ET's que tinham acabado de aterrar. A porta da casa estava aberta e não havia nenhuma campainha a que pudéssemos tocar e, então, entramos cautelosamente.
- Estou aqui! - gritou uma voz. Demos um salto.
- Ai que susto, minha senhora! - disse a Maria com uma mão no peito - mas afinal está aonde?!
- AQUI!
A minha vontade era fugir dali a sete pés.
Demos com a tal senhora numa sala escura, sentada a uma mesa circular, debruçada sobre uma bola de cristal brilhante que refletia várias cores. Abri a boca de espanto!
- O melhor é fechar a boca Milord, senão ainda lhe entra uma mosca - e riu-se da sua própria piada mostrando apenas os dois dentes que tinha na boca.
- Mas como é que a senhora sabe o meu nome?!
- A Madame Carmecita tudo sabe, tudo vê e tudo resolve! E eu sei porque você está aqui.
A Maria, que até então permaneceu calada, aproximou-se sem medo da senhora e explicou-lhe os nossos problemas, falando sem parar até de coisas que eu próprio desconhecia da minha própria casa.
A senhora olhou-me nos olhos e ordenou-me que me aproximasse. Debruçou-se ainda mais na sua bola de cristal e manuseou as suas mão em torno dela. Reparei que tinha umas unhas tão grandes e tão compridas que dei por mim a desejar que ela não tivesse que me tocar. Perguntei-me se ela acariciava os seus gatos. Pobres animais!
- Eu vejo uma luz... - começou por dizer.
- Quer que feche mais os cortinados, Madame? - perguntei.
- CALE-SE!!
- Milord, sinceramente! Deixe a senhora concentrar-se - reclamou a Maria. Eu queria pelo menos um pretexto para sair dali para fora.
A bola de cristal ficou escura durante alguns segundos, depois passou para um tom avermelhado e logo a seguir ficou roxa.
- Hum, muito interessante! - resmungou a mulher.
De repente, ficou escura outra vez. Eu nem respirava. A bola passou a vermelho novamente.
- Que estranho...
- Está a ver alguma coisa Madame? - perguntou a Maria.
- Eu vejo... eu vejo...
Um clarão branco surgiu, iluminando os nossos rostos espantados. Até que, de repente, a mesa começou a tremer e logo depois o chão os nossos pés também. Até se ouvia a louça a tilintar na cozinha que ficava do outro lado da parede.
E... PUF!!! A bola de cristal explodiu.