A história de um rapaz que se assumiu
Quando tive o meu primeiro namorado e me assumi como homossexual a minha mãe fez-me um ultimato: se queres te assumir sais fora desta casa! Não levei essa ameaça a sério porque lá no fundo eu sabia que ela nunca seria capaz de fazer uma monstruosidade dessas, estava apenas chocada com uma realidade que, acredito, ela já ter percebido e fingido não ver. Corria o ano de 2009.
Nessa altura, a minha mãe não estava preocupada comigo, mas sim por aquilo que os outros iriam falar. "Tu vais ser motivo de chacota" dizia ela. Soube que mais tarde ligou ao irmão, meu tio emigrado na Suíça, para desabafar e ele simplesmente lhe disse que era algo completamente normal e que na Suíça não faltavam rapazes como eu, que se algum dia me sentisse mal ou constrangido por me assumir, poderia perfeitamente emigrar para junto dele que iria ajudar-me no que pudesse.
Não aceitei. Emigrar nunca esteve nos meus planos e muito menos emigrar por causa do que os outros iriam falar de mim, isso jamais!
Quando contei à minha irmã mais nova ela ficou contentíssima por lhe ter confiado algo tão íntimo e disse que me apoiava em tudo. A minha irmã do meio, na altura com 20 anos, ficou igualmente chocada. "Vai ser uma vergonha" dizia ela, e certo dia ouvi ela comentar com a mãe "são coisas que se metem na cabeça das pessoas e depois passa". Pois, mas como a homossexualidade não é uma doença que curamos com uns comprimidos ou apoio psicológico (a que muitos homens foram sujeitos ao longo dos anos), essas "coisas que se meteram na minha cabeça" não passaram.
A minha mãe tinha razão numa coisa: o motivo da chacota. A partir do momento que me assumi como gay e comecei a viver a minha vida sem me esconder, o meu namorado vinha buscar-me à porta de casa em vez de me esperar num sítio mais reservado, as piadas e bocas surgiram. "Lá vai o paneleiro", "cuidado senão ele enraba-te", "este gajo é mesmo bicha" - são apenas alguns exemplos.
Ouvi e calei durante muitos anos.
Hoje a situação é diferente. Há mais pessoas que cumprimentam o meu namorado que aquelas que nos criticam e isso deixa-me muito feliz. Claro que uma vez por outra ainda ouço comentários desagradáveis, porém em vez de baixar a cabeça e continuar olho a pessoa diretamente nos olhos, sem dizer nada. A pessoa vira a cara, completamente desarmada, porque percebeu que aquelas palavras não me atingem mais.
Sou mais respeitado hoje do que há 14 anos atrás. A vida, essa, só diz respeito a mim. Os outros são apenas os outros.
Bom fim de semana a todos.