O Presidente
Hoje recebi a visita do Presidente da Junta, Américo Tomás. Nunca antes o Sr. Presidente pôs os pés na minha humilde mansão mas hoje, sem que nada o previsse, fez soar a sineta que tenho junto ao portão. A Maria veio a correr, atrapalhando a minha leitura, e sussurrou-me que quem tinha tocado a sineta era nada mais nada menos que o nosso Presidente acompanhado da sua esposa. Ordenei-a que os fosse receber e os convidasse para entrar, oferecendo-lhes uma chávena de chá, enquanto eu iria trocar de roupa.
Sebastião estava a dormir e eu fechei a porta do seu quarto para que ninguém ouvisse os seus roncos. Quando desci, deparei-me com a Maria sentada no sofá em frente deles pedindo-lhes ajuda pois agora estava separada do marido e ele não a ajudava em nada. Mandei-a para a cozinha e cumprimentei os meus convidados com pompa e circunstância como o momento assim o exigia. O Sr. Presidente apertou-me a mão com força e deu-me uma palmadinha no braço como se fossemos velhos conhecidos. A sua esposa simplesmente acenou-me com a cabeça e fez um leve sorriso. Perguntei-lhes em que os poderia ajudar.
- Milord, desculpe-nos a ousadia de o visitar sem sermos devidamente convidados mas creio que temos um assunto a tratar que será positivo para ambas as partes.
A sua esposa continuava a acenar com a cabeça e eu tive que resistir ao impulso de lhe perguntar se ela sofria de parkinson.
- Sou todo ouvidos senhor Presidente.
Ele refletiu por momentos antes de voltar a falar, olhando para cima como se as suas palavras pairassem por ali no ar.
- Soubemos que Milord iria receber uma visita muito especial de uma Condessa - acrescentou.
- As notícias correm depressa, senhor. Até aposto quem foi que lhe disse - só poderia ser a Aurora do minimercado.
- Oh não leve a mal. Sabe que vivemos numa aldeia pequena e tudo se sabe...
- Compreendo.
- Bem, adiante. Quando soubemos dessa notícia, eu e a minha Lulu, decidimos que tal acontecimento não poderia passar em branco, se é que me entende. Vamos organizar uma festa de boas vindas para a Condessa! Tudo pago pela presidência claro está, Milord não terá de se preocupar com nada, é só comparecer com a Condessa e a sua... família?... as pessoas que habitam aqui consigo.
De repente, um largo sorriso se apoderou de mim.
- Mas isso é uma excelente ideia! Obrigado pela atenção senhor Presidente.
- Oh de nada! Será um prazer.
Depois de decidirmos alguns aspetos importantes, levantei-me para dar a conversa por terminada. Eles fizeram o mesmo. Voltou a dar-me o mesmo aperto de mão vigoroso e a sua esposa, Lulu, o mesmo aceno de cabeça e aquele sorriso artificial que me estava a dar cabo dos nervos. Saíram da minha mansão sem mais uma palavra mas, já quase a chegar ao portão, o senhor Presidente virou-se para trás e disse:
- Ah! E não se esqueça de mim nas próximas eleições!
Claro.