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Milorde

O Milorde fala um pouco mais de si

Milorde, 14.11.22

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Quando era mais novo todos diziam que era um fidalgo por ser um menino franzino, frágil e cheio de manias.

Na verdade sempre fui um nobre apenas de nome e atitude. Cresci numa casa pobre, fria e decrépita em que não tínhamos água quente para tomar banho, bebíamos água do poço e vestíamos a roupa uns dos outros conforme servisse e só no Natal e na Páscoa é que tínhamos direito a roupa nova. Depois dessas festividades a roupa era guardada protegida por um plástico e só seria usada ao domingo para ir à missa ou numa visita à casa da minha avó. As minhas calças eram remendadas, as meias cosidas à mão.

Tínhamos uma panela grande onde era aquecida a água e a despejávamos numa bacia. Lavava primeiro o cabelo de joelhos no chão e agachado e só depois entrava dentro da bacia como podia para lavar o resto.

Muitas noites fui para a cama apenas com uma tigela de leite morno no estômago ou um parto de sopa de legumes porque a vida não era fácil e não havia carne nem peixe para comer todos os dias. No dia da matança dos frangos que a minha mãe criava nos currais havia sempre comida fresca ao jantar acompanhada de um arroz de feijão caseiro tão delicioso que jamais provei igual.

Nas noites de Inverno, em que o vento era tão forte que entrava pelas frestas das janelas mal isoladas, debaixo de sete cobertores para me aquecer, imaginava como seria a minha vida daqui a alguns anos. Adormecia embalado pela imaginação e com a certeza de que quando fosse grande haveria de conquistar muita coisa.

Hoje tenho tanta roupa que muita nem uso, basta rodar a torneira para a esquerda para a água sair quente, não me falta comida na mesa, tenho um edredão quentinho numa cama grande e tomo comprimidos para dormir.

Já conquistei muita coisa e ainda falta muitas outras que quero conquistar.

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