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Milorde

O Milorde e uma história de vida

Milorde, 23.11.22

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Em conversa com a minha mãe sobre o amor de uma família, ou a falta dele, depois de um bom almoço que tão bem preparou, disse-me que em toda a sua vida nunca recebeu um beijo ou um gesto de carinho da sua mãe nem do seu pai.

O meu avô materno, que eu não conheci, era um homem muito severo e violento. A minha avó uma mulher trabalhadora. Todas as manhãs bem cedo a minha mãe tinha que ir para o campo cortar erva com uma foicinha para dar de comer ao gado, mesmo nos meses de inverno em que a erva era tão gelada como a neve. Na escola levava uma reguada por cada resposta errada nas mãos estendidas sobre a secretária da professora, à noite tinha que tentar afastar o seu pai quando este, com uma faca, uma arma, um martelo, as mãos, agredia a sua mãe dizendo que ela tinha amantes e que qualquer dia a matava.

A minha mãe casou cedo e depressa saiu daquele ambiente aterrorizador mas não para melhor. Levou a primeira coça do meu pai quando ainda estava grávida de 3 meses. Desmaiou e levou com um balde de água fria para acordar. Divorciaram-se após sete anos de um casamento conturbado e a partir daí a presença do meu pai na minha vida foi muito pouca. A minha mãe criou 3 filhos sozinha com muitas dificuldades e uma educação rígida.

Hoje sempre que vejo o meu pai ele dá-me dinheiro debaixo da mesa talvez para de alguma forma pagar a sua ausência durante tantos anos. Noto na minha mãe que é uma mulher revoltada pela vida injusta que levou mas que se derrete em doçura com os netos.

Eu também em toda a minha vida nunca recebi um beijo ou um gesto de carinho da minha mãe nem do meu pai.

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