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Milorde

Em memória da minha tia

Milorde, 10.10.21

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- Tia, quando crescer quero ser professor como a senhora.

A minha Tia foi professora primária durante toda a sua vida. Houve quem dissesse que era severa, autoritária, mas para mim sempre foi um doce de pessoa. Ela gostava de mim. Disse à minha mãe que me pagava os estudos se eu quisesse mesmo ser professor. Os caminhos traçados da minha vida não me levaram por aí e ainda hoje lamento que tal não tenha acontecido.

Quase todos os domingos ia visita-la, não só para estar com ela, mas porque ela tinha sempre sumo e bolachas com pepitas de chocolate na sua despensa que me dava para lanchar. Posso comprar muitos pacotes dessas bolachas, mas nenhum deles vai ter o mesmo sabor. Aliás, se as comprar hoje, dificilmente conseguirei engoli-las.

Uma terrível doença acamou-a e fez com que se esquecesse da maioria das pessoas, mas quando fui visita-la ela lembrou-se de mim, e na sua voz característica disse-me: anda cá dar-me um beijo. Foi a última vez que a beijei.

A minha Tia partiu esta madrugada. Já lhe agradeci mentalmente um milhão de vezes por tudo aquilo que fez por mim e pela minha família. Quero acreditar que algures, num outro plano talvez, ela esteja mais feliz e que possa continuar a ajudar outras pessoas.

É com as mãos a tremer que acabo este texto, não de humor, mas sim de um profundo pesar. E espero que ela sinta orgulho de mim que, apesar de não ser professor, consigo escrever um texto em memória dela tão bonito que seja capaz de a fazer sorrir.

 

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