Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Milorde

O top 5 do Milorde

Milorde, 31.12.22
  1. O preço do açúcar
  2. O Milorde cinematográfico
  3. Dêem-me um Percurso Pedestre e eu sou feliz
  4. Meu querido mês de Agosto
  5. O Milorde domingueiro

 

Este ano que hoje termina foi o ano de crescimento deste blogue. Já aqui referi e repito que todos os dias me surpreendo com as visitas e a interação que recebo e não poderia estar mais agradecido. Não tenho palavras para vos agradecer.

Deixo aqui um top 5 dos textos mais visitados deste ano com os votos de um excelente ano de 2023, que a paz, a saúde e o amor estejam presentes em todos os dias deste novo ano que se inicia.

 

O Milorde chocado

Milorde, 28.12.22

woman-1540598_1920.jpg

Certo dia estava a pensar em como teria sido o meu nascimento quando, ao fazer as contas, me apercebi que a minha mãe casou-se já grávida sem o saber. Confrontei-a logo com a minha descoberta. Se ela casou em Agosto de 1985 e eu nasci em Maio de 1986 é provável que quando a minha mãe atravessou a igreja vestida de branco, com véu e grinalda, jurando amor eterno ao meu pai na saúde e na doença até que a morte os separe, eu já estava a ser gerado no seu ventre. A minha mãe limitou-se a concordar comigo, realmente sim é provável, mas se tal aconteceu ela não sabia.

Este assunto veio à baila no dia de natal quando estava reunido com toda a minha família na casa da minha avó. Disse que tinha chegado a essa conclusão e a minha mãe não se fez de rogada e logo respondeu que se aquele banco de carpinteiro que o meu avô tinha na carpintaria falasse tinha muitas histórias para contar. A minha tia, que na altura também namorava com aquele que viria a ser seu futuro marido, confirmou dizendo que quando olhou para o fundo da carpintaria viu a minha mãe deitada no tal banco e que logo depois só se ouvia o banco a ranger. Toda a gente se riu. Eu, por outro lado, também descobri que fui concebido num banco de carpinteiro, às escuras, escondidos dos meus avós, com a minha tia a ouvir... espetáculo!

Já que estávamos numa de conversar sobre a intimidade, uma outra tia também disse que o seu filho foi feito num palheiro, em cima da palha seca. "Antigamente é que era, até dava mais gosto!".

Digam-me se eu posso ser uma pessoa normal no meio desta família.

O Milorde e o pai

Milorde, 27.12.22

man-845847_1920.jpg

Quem conhece já um pouco da minha história sabe que os meus pais são divorciados há muitos anos e que, por conseguinte, o meu pai não foi uma figura presente na minha vida. Hoje sou um homem de 36 anos que mantém contacto com o pai, porém não existe aquela ligação que deveria existir entre pai e filho, é como se o meu pai fosse um desconhecido que por vezes vem jantar ou almoçar comigo.

Este natal, como em todos os anos, veio jantar connosco. Ficou na cabeceira da mesa e de vez em quando falava algumas coisas, dava a sua opinião, disse que a comida estava boa e que não podia abusar dos doces, ria-se de algumas graçolas que fomos contando, mas sobretudo falava com os meus cunhados sobre assuntos de trabalho, saúde e futebol. Nós os dois falamos apenas de banalidades, coisas sem interesse.

O meu pai sabe que sou homossexual, não por mim, mas pelos outros que se acham no direito de comentar a vida privada de cada um. Nunca tive uma conversa com o meu pai sobre esse assunto - nem penso que o deva fazer - e sinto que, de alguma forma, o desiludi. Quando a minha mãe lhe confirmou que sim "o nosso filho é gay assumido e tem um companheiro" a primeira reação do meu pai foi "não pode ser, o Milorde é um homem, tem que sair ao pai, macho!". Tive pena de não estar presente no dia em que ele proferiu tal coisa porque gostava de lhe perguntar se eu sou menos homem por ter uma orientação sexual diferente e talvez nesse dia houvesse um corte definitivo na nossa relação. Contudo, conforme os anos foram passando, ele mudou o seu discurso e hoje diz que "cada um sabe da sua vida" e "eu só quero que ele seja feliz". Nunca mo disse diretamente.

Por mais que ele o diga eu não acredito muito na veracidade das suas palavras. Sempre que o assunto gay surge num almoço de família ou num jantar de natal o meu pai vira a cara, mantém-se em silêncio ou até muda de assunto e isso deixa-me desconfortável. Gostava de levar o meu companheiro a esses almoços, às celebrações, mas não o faço porque "já sabes que o teu pai não gosta" e limito-me a aceitar porque não quero incomodar ninguém com alguma imposição da minha parte.

Quando estou com os amigos do meu pai eles perguntam "então e quando é que arranjas uma mulher para dar netos ao teu pai?!" e eu não sei o que responder e, quando o olho, ele está de cabeça baixa a olhar para as unhas. Ele tem vergonha e medo da minha resposta e eu lá digo "há-de chegar o dia".

O Milorde jamais irá colocar o seu pai numa situação desconfortável porque lá no fundo, por mais que diga que não existe uma ligação com ele, eu gosto dele.

Conto de Natal - em memória da minha avó

Milorde, 22.12.22

christmas-2918_1920.jpg

24 de dezembro de 2015

Cheguei a casa da minha avó por volta das 5 da tarde. Na cozinha já se preparavam as batatas e as pencas, o bacalhau já estava na grande panela que é usada ano após ano para o cozer. A minha avó estava sentada no sofá a olhar para o vazio, completamente alheia ao que se passava ao seu redor. De vez em quando dizia alguma coisa sem sentido, palavras soltas que ninguém compreendia, por vezes dizia "saiam todos daqui".

O natal sempre foi passado em casa da minha avó com os meus tios, primos, uma família enorme reunida numa pequena cozinha aquecida por uma lareira que quando o vento soprava forte largava fumo e tínhamos que abrir a janela para não intoxicarmos. Lembro-me que cheguei a ir com ela algumas vezes comprar azeite caseiro a um lagar onde duas senhoras já de idade o faziam. Eu nunca gostei daquele azeite, achava-o um pouco ácido, e então ela comprava sempre para mim no mercado o melhor azeite que existia, e claro fazia sempre aquela aletria que só ela sabia fazer e que eu nunca mais provei igual.

Até ao dia em que ela em vez de colocar açúcar na aletria, colocou sal. Em vez de chamar a minha irmã pelo nome, chamou-a por outro. Não se lembrava das pessoas, perdia-se no caminho, e começou a apanhar erva para o gado que ela já não tinha.

Alzheimer - o neurologista não teve qualquer dúvida no diagnóstico - puro e duro! - acrescentou. Não havia nada mais a fazer. A partir daí tudo foi diferente.

Voltando ao dia 24 de dezembro de 2015, a ceia de natal passou-se bem entre comida, bebida, doces e gargalhadas. A minha avó desta vez balançava-se para trás e para a frente e soltava alguns lamentos devido ao barulho que as crianças faziam ao bincar. Fui sentar-me ao pé dela no sofá e agarrei-lhe na mão que ela logo apertou e acalmou-se. Perguntei-lhe como tantas outras vezes se sabia quem eu era, respondia-me sempre com palavras soltas e dizia "não quero, não quero" como se eu lhe estivesse a oferecer alguma coisa, contudo desta vez ela levantou a cabeça e olhou para mim e após uns segundos de reflexão disse: é o Milorde!

Os meus olhos encheram-se de lágrimas e fui preenchido por um calor no coração que jamais poderia explicar por palavras. Um momento fugaz que durou pouco pois logo depois baixou a cabeça e começou a lamentar-se. Disse-lhe "eu estou aqui, o Milorde está aqui" e vi que também ela começou a chorar enquanto apertava a minha mão.

Acredito que a magia do natal que tanto falam estava connosco naquele momento. Não tenho outra explicação para o descrever. Guardei-o só para mim porque se o partilhasse de certeza que uma outra pessoa iria insistir com ela para que reconhecesse mais alguém.

Este natal será o segundo sem a presença física da minha avó. Todos os dias me lembro dela e peço que descanse em paz e que seja iluminada sempre pela luz perpétua.

Para mim, o natal será sempre sinónimo de avó. Não tem como não ser.

 

Um conto de natal em memória da minha avó para o desafio que me foi lançado pela nossa querida Isabel.

O Milorde chora com o riso

Milorde, 16.12.22

smiley-1876329_1920.jpg

Foi uma semana inteira de greve dos professores em que todas as manhãs era uma incógnita sobre se realmente haveria aulas ou não na escola de Barbalimpa. Uma das minhas sobrinhas teve aulas estes últimos 4 dias mas hoje, sexta-feira, a sua professora decidiu também fazer greve e então tive que ir busca-la. Veio cá para casa e juntos estivemos a limpar, a dançar, a comer e sobretudo a conversar porque a minha sobrinha é uma criança que fala pelos cotovelos!

Perguntei-lhe se todos os meninos foram para casa ao que ela me respondeu que só os do 1º ano é que tiveram aulas. E esta conversa terminou da seguinte forma:

Milorde: Quem é a professora do 1.º ano? É a mesma que a tua?

Sobrinha: Não, é outra professora. É aquela que dá peidos na casa de banho!

Milorde: O quê? - perguntei já a rir-me como um perdido - como é que sabes disso?

Sobrinha: Porque uma vez eu fui à casa de banho e ela estava na do lado e ela só dava peidos daqueles muito barulhentos.

Milorde: E depois?

Sobrinha: Depois eu saí da casa de banho e ela também. E eu fiquei a olhar muito séria para ela e ela virou a cara e foi embora.

 

Gente, eu chorei com o riso!

O Milorde explica o diafragma

Milorde, 13.12.22

19872.jpg

Sábado passado foi noite de jantar de natal de um grupo de dança do qual faço parte há muitos anos. Todos reunidos numa mesa comprida, servidos de uma serie de petiscos, depois uma carne assada acompanhada de batatas e salada, regados com um bom vinho tinto, o tema de conversa foi parar ao sexo.

Falou-se sobre o preservativo e houve alguém que referiu também existir um preservativo feminino. As senhoras ficaram admiradas porque em toda a sua vida nunca ouviram tal coisa.

É o diafragma, disse eu. Um colega fez uma pesquisa no Google para mostrar uma imagem do dito cujo. As senhoras visualizaram e escandalizadas disseram que não entendiam como é que um balão daqueles entrava na sua própria vagina.

Não é assim que isso funciona - disse eu. Expliquei de forma sucinta como é que o diafragma funciona e levei todas aquelas pessoas às lágrimas de tanto rir. Tanto que sempre que surgia uma dúvida sobre o assunto, as senhoras apressavam-se a dizer que: é o Milorde que explica!

Parece que Milorde deveria abrir um consultório sexual.

O Milorde Botânico

Milorde, 05.12.22

Ofereceram-me uma floreira com três prateleiras para colocar vasos. Como não tinha algum vaso para lá colocar - a minha mãe tem apenas alguns catos que estão na varanda -, decidi ir a um horto para comprar plantas de interior, e foi assim que tudo começou.

Comprei três plantas que infelizmente, e digo isto mesmo com alguma tristeza, não vingaram. Consegui apenas salvar uma. E porquê Milorde? Por 4 erros que não devemos cometer:

  • Mal cheguei a casa a primeira coisa que fiz foi mudar as plantas de vaso. Errado! Uma coisa que aprendi nesta minha jornada como botânico amador é que existem épocas para fazer as mudas das plantas, não é quando nos apetece;
  • Comprei a terra mais barata que havia no horto, uma terra universal. Errado! As plantas de interior não aceitam qualquer substrato, tem que ser um substrato próprio para elas;
  • Mudei as plantas para vasos sem furos. Muito errado! Os vasos têm que ter obrigatoriamente furos para que a planta possa drenar a água;
  • Coloquei as minhas plantas ao fundo das escadas, num sítio escuro. Errado, errado e errado! As plantas têm que ter muita luz para sobreviver, mas não sol direto porque pode queimar as folhas.

Após este desastre comprei mais três plantas. Passado umas semanas comprei mais uma, depois outra, e outra... neste momento tenho 11 plantas em minha casa! A minha mãe diz que esta casa mais parece um horto.

Penso que Milorde está a ficar com uma certa obsessão pelas plantas... será que devo me preocupar?