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Milorde

Milord opina

Milorde, 31.08.20

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Marie Antoinette in Court Dress | Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun | 1778

 

É este modelo de vestido que a Condessa escolheu para usar na festa do avante. Sim, antes que me perguntem, ela também foi convidada para mal dos meus pecados! Eu devo ter soltado a guilhotina que tirou a vida a Maria Antonieta numa outra vida para merecer isto! É que ela não tem a mais perfeita noção do papel de ridícula que vai fazer.

Tentei, por diversas vezes, dissuadi-la a escolher outro modelo. Disse-lhe que a qualquer momento ela pode tropeçar nas saias e cair redonda no chão como uma panqueca. Sem sucesso. Diz ela que o tamanho exagerado (ao menos admite) das suas saias serve para manter a distância de segurança das outras 33 mil pessoas que vão estar presentes.

Que querem que lhe diga?! Ela está irredutível!

 

As personagens

Milorde, 31.08.20

Personagens principais deste blogue

 

Maria dos Prazeres: criada de Milorde. Uma mulher de meia idade, atarracada, um pouco rude e com pouca inteligência. O marido expulsou-a de casa juntamente com o filho de ambos para viver com outra mulher. Faz praticamente tudo sozinha na mansão de Milorde em troca de um teto e comida. Não recebe salário.

 

Milorde: Mas porque é que eu não apareço primeiro na lista?! Um nobre francês que gastou toda a sua fortuna com os seus luxos. Teve que sair do país para fugir das dívidas. Atualmente vive em Portugal numa mansão decrépita, numa vila pequena mas cheia de vida, lamentando a sua sorte. Contudo, mesmo arruinado não perde a pose, pensa ser superior aos outros, e recusa-se a aceitar o seu atual estado financeiro. Vive um dia de cada vez.

 

Sebastião: filho de Maria. Um adolescente de treze anos rebelde, sem maneiras e com uma fome voraz. Não liga nada aos estudos, só quer saber das meninas e de cerveja, e não se preocupa com nada da vida.

 

Misha: o gato de Milorde. Contente com quase todas as pessoas que habitam a mansão porque lhe dão colo, carinho e comida. Não gosta do Sebastião que lhe puxa a cauda e atira-o ao chão. Prepara um plano de vingança contra ele sem que ninguém perceba, obviamente porque ele é um gato meus caros, e a única coisa que diz é um simples miau!

Jorge: proprietário do café/restaurante da vila.

 

Todas as personagens contidas neste blogue são inteiramente fictícios e fruto da imaginação do autor. Quaisquer semelhanças com a realidade é pura coincidência.

Milord testado

Milorde, 27.08.20

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Meus caros,

Acredito que a vossa preocupação sobre a minha pessoa é grande e que, quando viram o título deste texto, os vossos olhos se arregalaram e os vossos corações bateram a uma velocidade estonteante pensando que eu, já com uma certa idade e, por isso, mais propício a esta coisa dos vírus, estivesse infetado com Covid-19 e que tivesse realizado um teste para o comprovar. Não, não é nada disso! O teste de que vos vou falar é outro.

Após o último debate ocorrido entre Joe Biden e Bernie Sanders, em que o tal "Sleepy Joe" mostrou uma energia esfuziante fora do habitual, Donald Trump pediu um teste de despistagem de droga para ele mesmo e para Joe Biden antes do primeiro debate presidencial, previsto para dia 29 de setembro. Segundo Trump, Biden teve uma atitude "normal" ao contrário das anteriores em que o mesmo se mostrava letárgico, e isso intrigou-o.

O mesmo me intrigou a mim. Devido à minha idade já um pouco avançada a minha performance já não é a mesma que outrora. Já não consigo beber uma cerveja de penálti sem me engasgar; já não consigo chegar a tempo à casa de banho sem antes soltar umas pingas de xixi nos trusses; a Maria tem de repetir duas vezes a mesma coisa para que a consiga entender; e já não consigo fazer longas caminhadas sem deitar a língua de fora como os cães. Contudo, há uns dias para cá, tenho sentido uma energia diferente em mim. Ainda esta manhã consegui baixar-me para calçar as meias sem que os meus ossos protestassem com o esforço.

Tudo isto me levou a questionar-me. Será que eu estou a ser drogado?! Não me admira nada que alguém ande a colocar alguma substância ilícita no meu chá! Mas com que propósito? Não consigo compreender. Eu não estou na corrida das eleições presidenciais americanas, porque se tal acontecesse não tenham a menor dúvida de que ganharia com uma perna às costas. Essas pessoas não percebem nada de política! Antigamente não havia cá debates e testes! Pelo contrário, era quando o rei estava bêbado que se tomavam as melhores decisões.

Pois hoje, sem contar nada a ninguém, dirigi-me a uma clínica privada e exigi que me fizessem um teste, que me custou os olhos da cara! O teste deu negativo mas a minha consciência ficou mais leve. Daqui em diante vou ficar mais atento.

 

Milord observa a arte

Milorde, 26.08.20

David - Florença

Davi - Galleria dell'Accademia, Florença

Nestes dias de calor só me apetece andar assim pela casa. Obviamente que não tenho o mesmo corpo que essa escultura que eu, muito gentilmente, partilho hoje com vocês para que a possam observar e tirar as vossas conclusões acerca do tamanho da "arte"! No entanto, posso afirmar que Milord nasceu com... outros atributos, digamos assim.

Milord não gosta do calor, é verdade! É ver as temperaturas a subir e o meu humor a descer. Se pudesse fazer como os ursos, mas no sentido contrário da coisa, hibernava durante todo o verão e só voltaria ao ativo no outono. Posso me comparar a um bombom da Ferrero Rocher, passo a publicidade, que sai de circulação em Maio/Junho e regressa em Outubro para não perder a sua qualidade.

E agora vocês perguntam: então Milord, hoje não há nenhuma história engraçada com as suas personagens?

E eu respondo: Não! Que eu também estou aqui para falar de coisas sérias.

 

Milord vai à bruxa

Milorde, 24.08.20

Esta manhã recebi um panfleto na minha caixa do correio. Estava quase a coloca-lo no lixo quando a Maria apareceu e quis ver o que estava lá escrito.

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Ficou logo toda contente por a Madame não sei das quantas estar na cidade porque, segundo ela, desde que aqui trabalha que sente uma energia negativa nesta casa e que isso não é nada bom.

- Eu nem era para lhe contar isto, Milord, mas esta noite tenho quase a certeza que senti alguém a puxar-me os pés. Não faça essa cara, olhe que é verdade! Eu acho que esta casa está assombrada, por isso é que o Milord está a perder tudo o que tem. Alguém deve ter-lhe colocado mau olhado.

Disse-lhe logo que não acreditava nessas coisas. Mas ela insistiu:

- Olhe que eu ouvi dizer que a Madame Carmecita fez com que um senhor de outra cidade recuperasse toda a sua fortuna.

Mal ela disse aquilo foi como se uma luz se acendesse na minha cabeça. Tenho a certeza que até a minha expressão mudou logo porque a Maria fez um sorriso de satisfação.

Decidimos telefonar para marcar uma consulta e, que sorte a nossa, a senhora informou-nos que estava disponível já esta tarde devido a uma desmarcação de uma cliente que se encontrava com gripe.

O seu "consultório" fica numa rua estreita sem saída perto da igreja. Quando chegamos a primeira coisa que me chamou a atenção foram os gatos. 14 pares de olhos verdes observaram-nos como se fôssemos dois ET's que tinham acabado de aterrar. A porta da casa estava aberta e não havia nenhuma campainha a que pudéssemos tocar e, então, entramos cautelosamente.

- Estou aqui! - gritou uma voz. Demos um salto.

- Ai que susto, minha senhora! - disse a Maria com uma mão no peito - mas afinal está aonde?!

- AQUI!

A minha vontade era fugir dali a sete pés.

Demos com a tal senhora numa sala escura, sentada a uma mesa circular, debruçada sobre uma bola de cristal brilhante que refletia várias cores. Abri a boca de espanto!

- O melhor é fechar a boca Milord, senão ainda lhe entra uma mosca - e riu-se da sua própria piada mostrando apenas os dois dentes que tinha na boca.

- Mas como é que a senhora sabe o meu nome?!

- A Madame Carmecita tudo sabe, tudo vê e tudo resolve! E eu sei porque você está aqui.

A Maria, que até então permaneceu calada, aproximou-se sem medo da senhora e explicou-lhe os nossos problemas, falando sem parar até de coisas que eu próprio desconhecia da minha própria casa.

A senhora olhou-me nos olhos e ordenou-me que me aproximasse. Debruçou-se ainda mais na sua bola de cristal e manuseou as suas mão em torno dela. Reparei que tinha umas unhas tão grandes e tão compridas que dei por mim a desejar que ela não tivesse que me tocar. Perguntei-me se ela acariciava os seus gatos. Pobres animais!

- Eu vejo uma luz... - começou por dizer.

- Quer que feche mais os cortinados, Madame? - perguntei.

- CALE-SE!!

- Milord, sinceramente! Deixe a senhora concentrar-se - reclamou a Maria. Eu queria pelo menos um pretexto para sair dali para fora.

A bola de cristal ficou escura durante alguns segundos, depois passou para um tom avermelhado e logo a seguir ficou roxa.

- Hum, muito interessante! - resmungou a mulher.

De repente, ficou escura outra vez. Eu nem respirava. A bola passou a vermelho novamente.

- Que estranho...

- Está a ver alguma coisa Madame? - perguntou a Maria.

- Eu vejo... eu vejo...

Um clarão branco surgiu, iluminando os nossos rostos espantados. Até que, de repente, a mesa começou a tremer e logo depois o chão os nossos pés também. Até se ouvia a louça a tilintar na cozinha que ficava do outro lado da parede.

E... PUF!!! A bola de cristal explodiu.