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Milorde

O assalto

Milorde, 20.05.20

A funerária Alves & Costa foi assaltada esta noite. Soube-o através do jornal local que um moço de recados me traz todos os dias pela manhã. Segundo o relatório da GNR, os assaltantes entraram pela janela da casa de banho que se encontrava aberta para arejar o espaço, e roubaram várias imagens de santos e um terço que, segundo diz o proprietário, era benzido.

- Este mundo está perdido - disse-me a Maria enquanto me servia uma chávena de café.

- Tenha atenção, mulher! Está a borrar a mesa toda com café!

- Ai desculpe, meu lord. É que eu fico revoltada com estas coisas! Até os santos lhe servem... havia de lhes nascer um corno no c...

- Maria, por favor, poupe-me aos seus comentários.

Esta mulher nunca mais aprende que não se pode dirigir a mim com palavras impróprias.

O Sebastião, que estava sentado ao me lado, começou a comer a sua torrada com a boca aberta e isso irritou-me profundamente que saí da mesa e fui sentar-me no meu cadeirão na sala para continuar a ler o meu jornal.

O senhor Diamantino Alves & Costa alega que ultimamente tinha recebido algumas ameaças anónimas através de telefonemas anónimos que lhe diziam, com um pano à frente da boca, que se ele não baixasse o preço das urnas que ia sofrer as consequências.

Diz, também, que tudo o que os assaltantes levaram, deram-lhe um prejuízo de quase três mil euros e pediu para que todos os habitantes lhe ajudassem com alguma coisa, nem que fosse com uma lata de atum.

 

Máscaras

Milorde, 05.05.20

Depois de percorrer todas as farmácias que conheço, da aldeia e das cidades vizinhas, encontrei máscaras descartáveis a 90 cêntimos! Comprei cinco, uma para cada um, e já gastei muito dinheiro. Onde já se viu um homem como eu, que deveria estar em casa porque já sou considerado uma pessoa de risco, ter de ir à farmácia com um tecido grosso que a Maria costurou numa tentativa de fazer as suas próprias máscaras, a tapar-me a boca e dificultando-me a respiração, para comprar máscaras para aquela gente toda que só sabe comer e dormir?!

O farmacêutico realçou que as máscaras que comprei são descartáveis, ou seja, são para usar uma vez e deitar fora. Mas o que é que ele tem na cabeça? Eu não vou gastar esta quantia de dinheiro todos os dias... É que nem pensar! Ele é que não sabe o dinheiro que gasto todos os meses em medicamentos para o meu reumatismo senão até se comovia e me oferecia as máscaras.

Mal cheguei a casa, disse à Maria que tinha que costurar mais máscaras mas desta vez com um tecido mais fino, porque as calças velhas do Sebastião que ela usa são muito grossas e eu não consigo respirar. Ela respondeu-me que não tinha tecido fino. Sugeri que utilizasse alguns dos vestidos da Condessa e a senhora ficou tão chocada que não me falou durante o resto do dia. Ela não é nada solidária!